sexta-feira, 8 de maio de 2015

   

       24 dias sem fumar e sem beber  (4ª feira  18.09.2002  )...13 ANOS ATRÁS...

  À noite está boa, tem jogo na capital. O Atlético joga com o Gama, na Baixada, e o Coxa joga com o Paissandu em Belém. Se o Coxa ganhar hoje, tem tudo para terminar em 2º na rodada.
   Chego em casa ao meio-dia. Às 13:00h levo meu filho pra escola e junto uma torta na mão, hoje é do dia da festa da torta na escolinha. Na volta passo no Big, quarta-feira é dia de promoção de frutas, legumes e verduras. Compro banana, batata cebola, alface e laranja baratos, o resto parece que tem casca de ouro. Os Super mercados baixam 3 ou 4 itens para atrair consumidores, e triplicam o valor de outras mercadorias. A velhinha estava contente com os preços baixos e encheu o carrinho. O dinheiro que pensou ter economizado na promoção, perdeu na inocência ao comprar maça e tomate a preço de ouro.
   Venho contando historinhas pro meu filho, que saltita de felicidade, não sei se por causa da historinha ou porque acabou a aula, ou pelos dois.
   Agora estou na lanchonete, ainda não entrou nenhum cliente. Aqui é assim, tem dias que aparece gente demais e, de repente, somem. Faço os lanches mais baratos do bairro, mas o lugar é fraco. Não me sinto seguro onde moro, o terreno é aberto nos fundos. Moro numa baixada, na ruas dos fundos, que fica num nível bem mais elevado, maconheiros, bêbados e desocupados costumam sentar lá em cima e dá-lhe tubão. De lá, eles podem observar tudo, a hora que saio, que chego, se tem gente em casa, se tem polícia na avenida, etc...Sinto medo quando deixo a casa só. Tem uns pau no cu, que atiram pedras. Já quebraram várias telhas do bar e vidraças. Imagine se eu não tenho uma família pra cuidar, poderia num momento de desespero, fazer o mesmo que um homem fez com a turma que jogava pedra na casa dele, virou manchete policial na Tribuna.
   Tem um cara aqui que está a meia-hora falando o que daria pra falar em um minuto. Fala de um bolo e pensa que estou interessado na receita, quando atropelam um cachorro bem de frente do meu bar. Tripa e sangue se espalha na rua, e outros carros passam em cima.
   Eu giro meu dinheiro no bairro, na padaria, distribuidora de gáz, no aviário, papelaria, barbeiro, materias de construção, etc...Mas tem vizinho que não entra no meu bar nem pra tomar um copo de suco ou coca, Como tem gente que gosta de mostrar o que não é, gastando em lugares caros e os filhos comendo ovos com luz ,água e aluguel atrasado. Esquecem que a comida que eu sirvo aqui, é a mesma que sirvo pro meu filho. E qual é o pai que mesmo sendo mau, dá ao filho uma serpente quando ele lhe pede um naco de pão?
   Está demais pro meu estômago todas aquelas tripas na rua. Vou buscar minha janta, mas a lembrança das tripas não me deixa comer.
   O Coxa está ganhando de 1 x 0 do Paissandu, o Gama está vencendo o Atlético por 2 x 0 na Baixada. Estou engordando muito, tenho de me libertar das balas e da doença gulosa da Magali. O Coxa leva o gol de empate, aos 46m do segundo tempo. Dói, e como dói. Só a cama pode me salvar agora, antes uma nova ducha de água fria.
   TANTO A SOLIDÃO COMO O ISOLAMENTO FAZEM PARTE DA MEMÓRIA, COM SUAS EXPERIÊNCIAS REAIS OU IMAGINARIAS. MAS O ISOLAMENTO VOLUNTÁRIO CRIA O MEDO, DANDO ORIGEM AO CINISMO E A DIFERENTES DEUSES. O FINDAR DA SOLIDÃO DEVE SER TÃO NATURAL E ESPONTÂNEO QUANTO O DE UMA DELICADA FLOR, LIVRE DE MOTIVO E DE RECOMPENSA. ASTÚCIA NÃO RESOLVE.

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