sábado, 18 de abril de 2015


   29.08.2002 ( quinta-feira)
   4 dias sem fumar e sem beber


      Ontem quando parei de escrever, atendi ainda a várias pessoas. Não vendo só hot-dog, tem x-salada, refrigerantes, balas, doces, cerveja  em lata, etc...Quando entra todo mundo junto, a agitação aumenta e com isso a vontade de fumar triplica de tamanho, a ponto de me fazer queimar o x-salada mais de uma vez ou deixar estourar as vinas no molho. É duro fazer vários lanches, dar troco, servir, limpar...e sentir o cheiro do cigarro impregnando o ambiente. Meu cérebro doente, parece parar de funcionar.
   Passo outra noite mal dormida, com dores, pesadelos, suores, medo, vou várias vezes ao banheiro, penso que estou tomando água demais, chupando bala demais, comendo demais, só dormindo de menos.
   Ao acordar tomo 4 xícaras de café com leite e cinco pãezinhos, devo engordar muito neste período, ontem comi 4 hot-dogs antes de fechar, carregado de milho, ervilha, batata-palha, maionese e ketchup com 2 vinas cada.Imagino que a gula será a causa de todos os meus pecados daqui pra frente.
   Como é duro, meu Deus, ver este tempo nublado, levantar da cama e saber que não posso fumar. O dia começa triste, nada tem sentido, somente o olhar e o sorriso do meu filho me fazem acreditar que vale a pena. Faço tudo que tem que fazer, trato os bichos do quintal e vou ao Big fazer compras. Sou pobre, compro sempre em pequenas quantidades, por isso é comum eu entrar no mercado quase todos os dias. Hoje, o Caminhão da Sorte da Caixa Ecônomica FEderal ou melhor, o caminhão das bolinhas viciadas da Caixa estavam no estacionamento do Big para realizar os sorteios desta semana. Os terráqueos primitivos acham que as loterias da Caixa são honestas, quanta ingenuidade, quanta besteira desses terráqueos, eu, mesmo com todos meus delíros mentais, tenho certeza da manipulação dos resultados. Mas não posso fazer nada, ainda, para alterar o egoísmo, a ambição e a burrice desses terráqueos primitivos, que insistem em jogar, sabendo que vão perder. Enquanto escrevo estas linhas, o rapaz, na mesinha da frente, bebe uma cerveja e fuma tranquilamente. Não é preciso dizer que todas minhas células nervosas entram em pânico. Como doces e mando bala...na boca. Vou à cozinha e dou  vários uivos, pra tentar em vão, resistir ao cheiro delicioso do cigarro que paira no ar. Ai de mim, Deus; ai de mim Jesus; ai de mim, Buda; ai de mim, Krishnamurti; ai de mim, meu filho amado! Tenho que ser mais forte, eu prometi isso a vocês e a mim, e vou cumprir, mesmo que tenha que ouvir ranger de dentes. Passaram-se 4 dias e 4 noites só e me parecem uma eternidade. No passado, quando fui operado de apendicite, fiquei mais de 100 dias sem fumar e sem beber. Quando achei que já estava bom e bem cicatrizado, inventei de beber e, bêbado, acendi o cigarro. Não parei mais, como se quisesse me vingar de todos os dias que fiquei sem satisfazer o vício. Imaginei que no dia seguinte  poderia parar de novo, mas, com remorso e de ressaca, fumei novamente, escondido da família por um bom tempo, pra que não soubessem da minha covardia e do meu fracasso, e as promessas desapareceram como a fumaça do cigarro, tudo cinzas, nada realizado, apenas o enorme sentimento de frustração de um pai que , na época, desempregado, caiu em tentação, enganado pelos pensamentos cata tônicos.
   Por isso tenho medo do fator tempo como meio para parar de fumar, é muito ilusório, a ansiedade pode passar anos camuflada, não sei. Conheço pessoas que ficaram anos sem fumar, beber e, de repente, sem saberem explicar, voltam ao vício e, o que é pior, dobrado. Eu mesmo já tentei de várias vezes e bolei vários truques para parar. Fiz terapia, raio-lazer, adesivos,goma de mascar de nicotina, volta na cadeira, despacho com galinha preta, uivei pra lua, fumei só em horas impares, diminuí o número de tragadas, enfim, mil e uma tentativas, que quase me viraram do avesso e não consegui. Por que então, justo agora, vou conseguir? Quem garante? O 13? Deus? Como vencerei os demônios da bebida e do cigarro? Como exorcizá-los? Que armas, que cruz, que estaca terei de enterrar no meu cérebro doente e viciado? Como farei pra que o cérebro viciado vença a si mesmo? Estão entendendo o drama dessas perguntas, terraqueos primitivos? Serei mais simples: - Como pode, meu cérebro viciado, que fumou durante 30 anos ou mais, consumindo 650.000 cigarros aproximadamente, que cagava fumando, sorria fumando, chorava fumando, que viveu, sofreu e amou fumando. O que pode fazer este cérebro doente apaixonado pelo cigarro e bebida, que tinha enorme prazer e ainda tem, para querer de verdade parar de fumar e beber para sempre? Como ele vai nocautear a si mesmo? Que loucura, os cigarros avulsos me olham como se entendessem meu pânico, medo e insegurança, momento a momento. Deus, vou dormir, não me abandone, pelo amor de Deus!

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