sexta-feira, 17 de abril de 2015



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    1 dia sem fumar e sem beber  ( 26.08)


   Acordei com muita dor de cabeça e ressaca. Levantei as mãos pro céu, por ter aspirina em casa. No banho, a lembrança fraca do que tinha acontecido na noite, lembro da voz, da luz e do 13,   sem saber se foi real, sonho ou efeito da bebedeira. Só sei que minha decisão já estava tomada. No café misturei leite! Meu Deus, há quantos anos eu não tomava leite. Passei ansioso e triste o dia todo, consegui, com muito esforço, seguir a rotina do dia sem fumar e sem beber.Aqui no bar, trêmulo, começo a escrever. Tantos anos sem bater a máquina, mas dizem que é como andar de bicicleta, vc nunca esquece, só perde a forma.
   Impossível relatar estas primeiras horas sem fumar. Parece não existir nenhum vestígio de vida em meu corpo, estou assustado ainda com o que ocorreu ontem.
   Chega! Meus dedos estão muito trêmulos para datilografar sentimentos, pareço um peixe fora d'água, a depressão está grande, enorme, pareço estar carregando um fardo descomunal, demais para o meu tamanho.

   2 dias sem fumar e sem beber ( 27.08)


   É difícil escrever o que se  passa comigo neste momento, difícil os dedos acompanhar à máquina, meu corpo parece anestesiado. Pela manhã, não senti o espírito retornar ao corpo. Passei o dia ingerindo bastante água, chupando bala e comendo muito. Minha fome parece ter duplicado, assim como minha irritação e nervosismo. Acostumado a fumar por mais de 30 anos, sendo quase 3 carteiras por dia, quando ainda contava. Como viver sem o cigarro na mão? Em todas minhas relações com o mundo, o cigarro esteve presente.No banheiro, no quarto, no trabalho, quando bebia, quando lia...o cigarro sempre foi meu companheiro, minha sombra, minha luz! Se não matasse, não causasse mal a saúde, eu jamais o largaria. Mas pelo meu filho autista ( não sabia ainda que meu filho tinha AUTISMO) minha esposa, meu espírito, coração e as palavras de luz que vi no 13 aquela noite, tomei a decisão inteligente de parar de beber e fumar. Domingo, me lembro do jogo que fui ver, que tristeza!, perdemos de 2 x 1, um jogo que estava fácil de ganhar, mas os jogadores tem mania de estragar a festa quando o estádio está cheio.
   Está difícil seguir a rotina. Tratar o cachorro, dos patos,  dos peixes. À tarde, levo meu filho para a escola e, depois, vou buscá-lo. Quando o deixo na escola e fico só, o desespero é grande, a vontade de comprar cigarro é avassaladora, mas chupo mais bala ainda e bebo água em abundância.Água mesmo, não"aquela que passarinho não bebe".
   À noite, abro meu hot-dog, faço isso todos os dias às 18:30h. Aqui em casa é assim, minha esposa trabalha de dia e eu à noite. Meus movimentos para servir cachorro-quente parecem estar em câmara lenta, é como estar dentro de um pesadelo. Faço um esforço enorme para entender, dar o troco certo, pois todo o meu ser- cérebro, coração, pulmão, espírito - só pensa no cigarro e em abrir uma cervejinha estupidamente gelada. E que tortura quando entra alguém fumando, eu pareço babar como um boi baba quando rumina. Milho, ervilha, batata palha, etc...eu tremendo, derrubando, quase impossível colocar qualquer coisa no pão. O cliente estranhou o olhar de ?
   Quando vou dormir, sinto dores no corpo e acordo várias vezes, suando muito, mas, penso ser efeito de abstinência. Acordo irritado, mal humorado, sem vontade de sair da cama. Fui fazer compras pra lanchonete na FrigoMinas, da Rua General Carneiro. É torturante, esperar o ônibus sem cigarro na mão, andar pelas ruas, falar, escutar, ultrapassar os bares...Pior ainda é ter que explicar meu mau humor. As pessoas não entendem que é muito cedo para dar um sorriso, puxar assunto ou ser como eu era, com um cigarro na mão e uns goles no coração.
   Teve momentos hoje em que meu olhar fazia um arco-íris de cores, senti uma sensação de estar enxergando melhor, como se tivesse um pára-brisa nos olhos ou pingado colírio. Não cansei tanto para subir o morro quando levei meu filho pra escola. `A noite, no meu bar, fiquei sensível, senti angústia e tristeza. O pensamento cria as maiores ilusões emocionais, fantasias psicológicas, para eu voltar a cair no vício. Quando não é doloroso, tenta dar ilusões de alegria, parece até que tudo está bem, mas na verdade é uma armadilha do cérebro viciado, para que eu caia em tentação.
   Terei de ser um BIG-BROTHER DE MIM MESMO, terei de me estudar, refletir, não me deixar cair em tentação. Não poderei ter medo de me olhar, de ver como eu sou, sem a fumaça do cigarro e a espuma da cerveja, que camuflam meu verdadeiro espírito. Prometi parar de fumar, pelo meu filho que precisa de mim, e vivo. Terei de estar sempre vigilante, tomar cuidado com as trapaças do pensamento 24horas por dia, como eu já disse é o BIG BROTHER do meu espírito, que Deus seja meu calmante! São 23:00h de terça-feira, fecho meu hot-dog agora, o movimento foi pequeno hoje. Vou tomar um banho e contar uma história pro meu amado filho. Depois, tomara que eu consiga dormir.


 

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