domingo, 7 de junho de 2015



   67 dias sem fumar e sem beber  ( quinta-feira 31.10.2002 à 13 anos atrás...)

   Porque comecei a beber e fumar tão cedo?  A quem culpar? Os problemas de brigas constantes em casa, a pobreza, as humilhações, timidez? Lembro-me da dona do armazém gritando alto na rua: "Manda tua mãe vir pagar a conta." Na escola: " Amanhã quem não tiver livro não entra." Uniforme sujo, camisas faltando botões. As crianças no recreio: " Sapato furado, sapato rasgado. Nos trabalhos em grupo, as outras crianças evitavam minha presença. Vivia com vergonha e viviam me gozando.
  Nunca tive coragem de fazer uma pergunta em classe. Tremia para ir ao quadro negro. Em casa, tinha vergonha das visitas. Nunca dançava em nenhuma festinha. Sempre tive vergonha de tudo, medo, pânico. Meu apelido na infância era mijão, porque mijei na cama até uma idade avançada. Era muito humilhante ser chamado de mijão na frente dos outros, morria de medo e vergonha.
   Lá em casa, o assunto era sempre dinheiro, era gás que acabava e não tinha dinheiro, lá íamos nós pegar lenha pra fazer comida no fogão à lenha. Era a luz que viviam cortando, eu não entendia porque meus pais deixavam cortar a luz, pois se passavam dois ou três dias, emprestavam dinheiro e a luz voltava.
   Nove filhos, 5 homens e 4 mulheres, não foi fácil nossos pais nos sustentarem. Minha mãe vivia doente, ela sofria de ataques, era uma tristeza profunda na casa quando tinha suas crises. E nesse clima fomos vivendo. Na infância, a coisa que mais amava era o futebol. Desde pequeno, jogar bola pra mim era o único momento que perdia completamente a timidez. Esquecia do mundo, dos problemas, da escola. Mas era só parar de jogar bola que a timidez retornava. Na escola eu sempre ia mal, principalmente em matemática. Tinha pânico quando o professor entrava na sala.
   Aos 13 anos conheci aquilo que seria minha maldição, o cigarro e a bebida. Tinha encontrado duas drogas poderosíssimas para acabar com meu complexo de inferioridade e timidez. Nesta época, a masturbação era frequente, sempre me acarretando culpa. Medo que minha mãe e irmãs ao lavar as roupas vissem mancha na cueca. Para disfarçar o cheiro do cigarro eu comia mimosa, casca de laranja ou chupava bala de hortelã. Até que não sei como, comecei a fumar na frente deles. Nas festinhas sempre bebia bastante, mas dificilmente dançava. Simplesmente eu não conseguia dançar. As vezes que tentava, as meninas me deixavam no meio do salão, e essas experiências foram suficientes para evitar tirar uma garota para dançar. Preferia ficar sempre pelos cantos, fumando e bebendo muito. Cada vez mais eu procurei a bebida, ela anestesiava minha angústia, meu medo e timidez. Fim de semana era comum chegar sempre bêbado, mas poucos davam atenção aquilo, já que em casa haviam muitos outros problemas com que se preocupar. A primeira mulher que transei foi de zona, um gozo rápido e bêbado. E assim seriam todas as mulheres do meu passado, sexo sempre estimulado pela bebida. E com os anos fui ficando cada vez mais viciado em cigarro, bebida e sexo.  Antes bebendo só nos finais de semana, depois em qualquer dia que surgisse oportunidade. As vezes não bebia por falta de grana, daí ficava vendo TV à noite, ou quando arrumava emprego e tinha que levantar muito cedo para trabalhar, daí bebia só nos finais de semana.
   As cagadas que fiz devido a bebida são incontáveis, enrubesço-me só de pensar. Mas nem só de tristeza e dor foi minha vida, teve muitos momentos que fui feliz ou ao menos achava.
   Hoje o problema da timidez persiste, mas já não lhe dou muito crédito. Não escondo mais o que sou e nem tenho vergonha de saberem que muito normal eu não sou, seja lá o que se entende por normal neste mundo.
   Li muitos livros, viajei muito,  convivi com tudo que é tipo de pessoas, e aprendi que viemos ao mundo para sermos simples e bons, simplesmente bons e simples. Demorei 40 anos para entender uma coisa tão simples.

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