segunda-feira, 7 de julho de 2008

Enc: 04.07 sexta cópia DALTON

   CÓPIA DO BLOG DO POLACO DA BARREIRINHA:
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   SEXTA-FEIRA TEM MAIS DALTON!

--- Em sex, 4/7/08, Francisco Wojciechowski <franciscowojciechowski@yahoo.com.br> escreveu:
De: Francisco Wojciechowski <franciscowojciechowski@yahoo.com.br>
Assunto: 04.07 sexta cópia DALTON
Para: franciscowojciechowski@yahoo.com.br
Data: Sexta-feira, 4 de Julho de 2008, 18:30


  CÓPIA DO TEXTO DO DALTON DESTA SEXTA-FEIRA DO BLOG:
  polacodabarreirinha.blogspot.com


  

Sexta-feira, Julho 04, 2008

Ludwig van Beethoven


Bola Perdida


"Antes de começar a criticar os defeitos dos outros,
enumera ao menos dez dos teus."

"Se dedicamos nosso tempo em criticar nossos semelhantes,
não teremos tempo para amá-los."


Meus amabilíssimos leitores, foi uma alegria imensa receber tantas expressões de carinho, via e-mail e comments, por minha coluna aqui no Polaco da Barreirinha. Um recorde absoluto. E justamente em um dia que resolvi sacaneá-los dobrando o tamanho do texto, que chegou a quase 3000 palavras. Mas parece que o feitiço voltou-se contra o feiticeiro, pois a grande maioria gostou e leu como se lesse um haicai ou um outdoor. Não foram poucos os que saíram gritando "MAIS! MAIS! MAIS!". Como se eu fosse uma máquina de fazer textos.
Mas isso não tem importância.


O que queria mesmo lhes dizer é que não mereço tanta consideração nem tantos elogios. Sou um pobre escriba, que já sofreu as mais cavas humilhações e, confesso, tenho uma dificuldade quase desumana para lidar com afagos e adjetivações hiperbólicas sobre minha paupérrima pessoa e minha tão escassa obra. Já contei a vocês que sou vítima do descontrole monetário e sofro, desde a mais tenra idade, implacável perseguição de ótimos cobradores. E tudo começou, vocês sabem, quando, aos seis anos, comprei fiado um doce de leite no armazém do seu Boleslau. Minto, não era um doce de leite e, sim, uma doce e cândida maria-mole. De lá pra cá, minha vida tem sido um eterno inventar as desculpas mais esfarrapadas, um contar interminável de histórias onde já devo ter enterrado todos os meus amigos e parentes uma 7 vezes pelo menos cada um. O fato é que meus compreensivos credores se tornaram meus fãs e alguns deles me ligam mais de uma vez por dia só para ouvir meus malabarismos ficcionais. Creio até que viver neste frenesi postergativo trouxe para minha obra algumas nuanças de estilo bem interessantes e, quiçá, com algum valor literário. Na verdade, meus solidaríssimos leitores, o mês é grande demais para um salário tão miseravelmente pequeno como o meu. Mas isso não tem importância.


OS FALACIANOS BAZOFISTAS PILHERIAM-ME POR CONTA DE MINHAS EPIZEUXES.


- Credo em cruz! Sai, coisa ruim! Que enrolação! Toda sexta é a mesma coisa. Será possível, meu deus!? Você não se enxerga, ô boca de burro. Ninguém está interessado em saber de tua vida ou de tuas lamentações. Você é pago pra escrever sobre futebol, merda, só isso. E te pagam até bem demais pra fazer o que você não faz, vigarista do caralho. Vai cagar no mato, seu troço de bosta! Você, Dalton, é simplesmente ridículo! Zurra à minha direita, o Geraldo, esse ser úmido, disforme e lamentável que tantas vezes tentei, sem sucesso, descrever para vocês. O Geraldo, para ser sincero, não se enquadra muito bem nos padrões da raça humana, a sua compleição semi-símia, se mostrada ao mundo, causaria enorme furor, pois seria um inédito desafio para cientistas mais atentos. Mas isso não tem importância.

- Se não tem então por que fala, ô idiota consumado? Puta que pariu, o cara é um chato de galocha. Feche esse bebedor de lavagem! Você não passa de um ignorante completo, Dalton, de carteirinha. É tudo sempre igual, uma repetição non sense de expressões pobres e sempre acompanhadas do mesmo terninho e a gravatinha do vovô, né, escribinha? Ahahahaha...

- Ahahahahahahah! E o colarinho da camisa então, mais ensebado que pau de gincana.

- Ahahahah...o problema é que se ele lavar, Geraldo, cai o colarinho. Ahahahah....Pilheria-me o nosso office old enquanto baba e espreme uma espinha enorme deixando um rastro de saliva, pus e sebo no indefeso espelhinho rosa. Em seus 22 anos de vida, Ribamar, tem como hobby e grande alegria juntar-se ao Geraldo para tripudiar sobre minha paciência neo-zenbudista-taoísta, quase canina. Mas isso não tem importância.

- Então não fale, desgraçado! Dizem em uníssono e, rindo e de braços dados, saem para fumar. Acompanho-os com os olhos lassos até desaparecem pela velha porta entreaberta. Esta redação se não for a casa da Mãe Joana é, com certeza, um terminal de embarque para o inferno. Explico melhor: é uma sala enorme e mal iluminada, quase oval, a atmosfera em seu interior é contraditória, difusa, onírica, inexata. Os seres ilusórios que se movimentam pra lá e pra cá dentro dela são exageradamente estranhos, marcados por equívocos ancestrais. Em quase todos há um olhar não dormido, expressões faciais surreais, pernas que parecem não ter para onde ir, braços pensos, quase asas. Passam uns pelos outros e acontecem diálogos diáfanos, inefáveis, como se o tempo e o espaço fossem ficção de algum escritor sob efeito de drogas estupefacientes. Mas isso não tem importância.


EXCUSEZ DU PEU!


O que não posso deixar de lhes dizer, meus honorabilíssimos leitores, é que não posso e não devo me achar demais, pois tudo o que é demais sobra, tudo o que sobra é resto e tudo o que é resto vai para o lixo. Certo? Certíssimo! O grande mal de quase toda a humanidade é que damos uma estúpida preferência a sermos arruinados pelo elogio em vez de sermos salvos pela crítica. Claro que me refiro à boa crítica, àquela que vem de uma pessoa disposta a nos ajudar e que por isso mesmo tem todo o direito de nos criticar. Muitos têm comentado que critico demais políticos, canalhas e ignorantes. Nem tanto, nem tanto. Menos, menos, eu diria até. Vejam vocês que uma de minhas frases - "Não roube! O Governo não gosta de concorrência." - já corre à boca pequena por todos os cantos do Brasil. Me parece, então, que eu disse uma verdade e, até mesmo posso dizer, uma grande verdade. Pois o povo a adotou com a mais cínica e deslavada devoção. Vejam que a voz do povo é a voz de Deus e o povo já está dizendo até que o contribuinte é o único cidadão que trabalha para o governo brasileiro sem ter de prestar concurso ou entrar em concorrência. E isso não é pouquinha coisa. É mais uma crítica. E temos todo o direito de fazê-la. Direito sagrado. Bem, na verdade, se a crítica não fosse uma coisa natural a gente não nascia chorando. No entanto, é de bom tom não levar a vida tão a sério, afinal, ninguém vai sair vivo dessa. Mas isso não tem importância.


O VAMPIRO ADORA MORCEGAR LÁ EM CASA.


O Trevisan chegou bem tarde na terça-feira, lá em casa, e, faminto, despejou sua fúria dental sobre minha travessa de broinhas de fubá mimoso, e, sedento, despejou goela abaixo meia dúzia de belas talagadas do meu litro de licor de ovos, e, satisfeito, despejou sobre mim e minhas adjacências pequenos farelos que distribuiu em meio às suas palavras:

- Tô vindo do Hospital.

- E?

- Nem uma palavra!

- Tá foda, hein?

- O teu tio é mais convicto do que padre que casa com mulher desquitada.

- A culpa é do Dunga.

- Sabe de uma coisa, cara? Pra puxar conversa, eu comecei a lhe contar como é que foi o Atletiba e o Torcedor começou a se contorcer todo e a ficar roxo. Parei na horinha, antes que eles sentasse que rosqueasse. Pensei que teu tio ia ter mais um ataque. É mole? Saí correndo.

- Bom, Trevisan, veja que além de não estarmos mais no topo do ranking da FIFA, já estamos perdendo decisões, em casa, até para a LDU. Imagine se o Torcedor estivesse vendo. Coitado do velho. Mas me diga você passou no terreiro do Pai Véio Chico Fantasma pra pegar a mensagem do Machado de Assis?

- Não, foi tua mãe que saiu da zona , para ir lá pegar. Claro, né, Dalton! Estranhei a cor preta do envelope. Credo, parece despacho! E o Véio Chico disse pra você abrir exatamente à meia noite de hoje, se não vai dar nhaca.

- Eu acho que é porque...O vampiro, temeroso, saiu sem que eu percebesse, me deixando a sós com o envelope e minhas palavras. Vou para a varanda me sirvo do que sobrou de broinhas e pego mais um litro de licor para, papando e bebericando, esperar a hora que apavora. São 23h20, vejo estrelas a granel tomando conta do céu e mostrando a arquitetura milenar de cada signo. Aqui Capricórnio, ali Touro, lá Escorpião, etc... e me faltam dois dedos para fechar a conta. Uma estrela cadente passa como um raio e se esborracha na atmosfera, até não lhe restar matéria alguma para continuar sua jornada luminosa. Tudo me espanta. A solidão silenciosa dos mundos astronômicos e seus bombardeios kamikazes incessantes...a jornada enigmática dos cometas em suas órbitas gigantescas...quasares, pulsares, buracos negros, buracos brancos, nebulosas, galáxias em formação, mundos que, em crítica severa ao criador, se rebelam e buscam novas formações, novos sóis, novos planetas, outros sonhares. Estou a ponto de quase começar a delirar, quando, no relógio, soa a primeira baladada, soa outra mais, mais outra...enfim as doze badaladas soam e abro o negro envelope com a mensagem mediúnica. Com a mão trêmula, retiro a folha cinza-chumbo onde, em elegantes letras garrafais, Machado escreveu pela mão do Chico Fantasma. Leio e o que leio não me perguntem. E nem queiram saber, meus curiosíssimos leitores. A verdade, quando é jogada na nossa cara, crua e nua, sempre provoca tsunamis colossais em nossa alma endividada. Mas isso não tem importância.


MACACO, OLHA PRO TEU RABO!


O que eu quero mesmo lhes dizer é que o Roberto Prado ( o Béco) me ligou na segunda às 4h30 da madrugada e soltava ácido sulfúrico pelas axilas. Furibundo, trovejou em meus ouvidos:

- Para todos os ofícios, exceto o de censor, é indispensável um longo aprendizado e uma extensa prática; os críticos acham que nasceram feitos, porque, em sua rasa profundidade, em vez de discutirem idéias, xingam ou tecem elogios ao autor e não à obra. E isso é típico das pessoas mesquinhas e ignorantes.

- Pra que essa conversa agora de madrugada, Beco?

- Porque no jornalismo a crítica tem como função comentar sobre determinado tema ou fato ou obra, geralmente das esferas artísticas, culturais, políticas ou esportivas, com o propósito de informar, elucidar, apresentar novas perspectivas e, claro, avaliar.

Com a alma aos solavancos pelas cavas humilhações passadas, arrisco: - "A que realmente você se refere, Beco?"

- Aos nossos jornais que foram unânimes em dizer que o Atletiba foi um joquinho, uma pelada sem emoções.

Suspiro mais avaliado que mãe quando busca resultado de exame de gravidez e descobre que a filha solteira mais nova está apenas com a menstruação atrasada. E, alegrinho, me assanho: -"Bem, Beco, eu acho que..." O desgracido bate o telefone nas minhas fuças e me deixa a pensar com meus botões de futebol de mesa. Realmente, nossos jornais estão longe, muito longe, de seus verdadeiros papéis. Cronistas despreparados, colunistas tendenciosos, analistas superficiais, jornalistas semi-analfabetos sem a mínima noção do que venha a ser um texto de verdade. O que vemos por aí são matérias quase que 100% descartáveis. Sem acabamento, sem nuanças, sem inteligência, sem graça, sem porra nenhuma que justifique o papel e a tinta que estão sendo gastos. Mas isso não tem importância, meus expertíssimos leitores.


O NELSON RODRIGUES É UMA BESTA! UMA BESTA!


O que eu queria mesmo lhes dizer e digo-o agora é que o nosso mais renomado dramaturgo, o Nelson Rodrigues, além de ser um dos escritores mais populares do Brasil e um dos cronistas esportivos mais lidos, admirados e copiados de todos os tempos, foi também o mais perseguido, odiado, difamado e caluniado. Vítima de uma crítica caolha e sistemática, Nelson foi perseguido pela esquerda, de tendências comunistas, e incompreendido pela direita, de tendências fascistas. Humilhado por uma fome migratória que o acompanhou de Pernambuco ao Rio de Janeiro, da infância à idade madura, o autor das deliciosíssimas crônicas esportivas, compiladas em duas obras primas do gênero A PÁTRIA EM CHUTEIRAS e À SOMBRA DAS CHUTEIRAS IMORTAIS, certa feita me disse, em tom mais festivo que a Nona Sinfonia de Beethoven quando incorpora parte do poema AN DIE FREUDE (À ALEGRIA), de Friedrich Schiller: -"Sou uma besta, Dalton. Uma besta!"

Lembro-me bem, era num infernal dezembro e os termômetros teimavam em subir, subir, subir, inaugurando temperaturas nunca antes atingidas. Descemos até Copacabana e a leve brisa, a maré calma com suas ondas regulares e precisas, a lua quase cheia chegaram ao nosso espírito com um frescor mentolado e convidativo à exaltação do que tínhamos de mais sagrado dentro de nós mesmos. Nelson, com as mãos à feição de conchas, mergulhou-as no mar e, como se estapeasse, espalhou pelo rosto suado a água fresca e generosa. Enxugando-se com um lenço branco e bem passado, explicou-me a sua manifestação de poucos minutos antes:

- Dalton, quero te contar o caso do Ministro que foi, pela primeira vez, à televisão. A família tremeu em cima dos sapatos. E não sei se a própria mulher, uma tia, ou uma cunhada, deu a sugestão espavorida: - "Toma banho! Toma banho!" E porque não lhe ocorrera a idéia do banho, o Ministro julgou-se um vencido. Imediatamente, a esposa se arremessou. Podia ser banho de chuveiro. Mas, como ele ia falar na TV, a santa senhora achou que devia ser banho de imersão. Encheu a banheira. Temperou a água. E o banho ministerial foi digno de Paulina Bonaparte. Do lado de fora, a mulher comandava: - "Esfrega bem! Esfrega bem!" Uma tia cochichou: - "Debaixo do braço!" E a mulher gritando: "Debaixo do braço, ouviu?" Súbito, alguém veio dizer à esposa: -"Homem não sabe tomar banho. Não se limpa direito." Vozes a instigavam: "Vai lá, vai lá!" E ela foi. Quando S. Excia. saiu, era o membro mais limpo do Governo.

O Ministro entrou na estação em ânsias, palpitações sufocantes. Não acreditava em nada, era um ateu nato e hereditário. Todavia, na hora de ir para o ar, vira-se para a mulher: - "Reze por mim! Reze por mim!" E, com uma dispnéia pré-agônica, encaminhou-se para o abismo. Sim, a televisão era, para o Ministro, um abismo voraz e inédito. Na frente das câmeras e dos microfones, deixou de ser o Poder, o Governo, a Autoridade. Era o contínuo de si mesmo. Houve um momento em que, em pleno ar, teve sede. Mas parte da água voltava como uma baba sobre seu queixo trêmulo..

Mas, Dalton, eu já nem sei por que é que estou lhe contando tudo isso. Ah, já sei. Eu queria lhe demonstrar o óbvio, isto é, que a televisão fascina qualquer um. O sujeito pode ser rei, ou rainha, ou anjo, ou santo. Mas atravessa três desertos para entrar no programa do Chacrinha, da Hebe ou do Fantástico. Cabe então a pergunta: - E por que todo esse deslumbramento? Vamos lá. Primeiro, porque, normalmente, cada um de nós é um ator sem platéia. Representamos, no máximo, para uma namorada, para meia dúzia de familiares, meia dúzia de vizinhos, meia dúzia de credores. E o sujeito que entra no Fantástico sai de lá célebre. Aparece para milhões. E essa celebridade fulminante é a maior delícia terrena para alguns. E quem fala para tantos pode, com uma única frase, fundar uma religião, com outra, derrubar um império, com uma terceira frase, decapitar várias marias antonietas. De mais a mais, a simples imagem no vídeo nos confere uma nova dimensão. Pois não há idiotas no vídeo. Agora, Dalton, eu te pergunto: - "Já imaginou você receber uma severa crítica no ar? Com milhões de bispos de torquemadas, de archote aceso na mão, prontos para uma nova inquisição, assistindo? Imagine sua cara diante da ousadia do apresentador, todo o seu ego se levantando com a fúria de mil furacões, e você, ali, Ministro, frente às câmeras, com aquela cara de tarado mas falando como uma mocinha, com trejeitos de mocinha, com voz de mocinha, mais manso que cachorro capado, para não desfeitear o Governo. Mas vamos esquecer o Ministro e pensar em nós mesmos, Dalton. Na verdade, a vaidade é a palavra que explica tudo. O que nos induz à televisão, à passeata, ao ato público é, digamos assim, uma vaidade de leitão assado. Se você não entendeu a metáfora, tentarei justificá-la. Imagine então um salão imenso. Banquete. Quinhentas pessoas sentadas, entre casacas e decotes. E, lá no fundo, um garçom traz na bandeja um leitão. Levado na bandeja, em desfile, o leitão há de sentir uma vaidade total. Uma cínica e deslavada vaidade. Assim também o artista, o literato, o cineasta, o ministro ou o padre de passeata. O sujeito parece desfilar triunfalmente, numa bandeja imaginária, e de maçã na boca como o leitão assado. Eu, na televisão, sou uma besta! Uma besta!"

Disse e saiu caminhando pela praia sem nem ao menos se despedir. Mas isso não tem importância.


MAIS DE 22 MIL OLHOS PRONTOS PARA JULGAR!


O que queria mesmo lhes dizer é que o campeonato brasileiro é por pontos corridos e vai que é um upa. O Atletiba, conforme eu e mais toda a população de Curitiba prevíramos, teve todos os ingredientes de um grande espetáculo. Uma ópera no teatro de Milão não teria maiores rigores e nem provocaria maior frenesi. O Atlético saiu disposto a varrer o Coritiba da face da Terra, literalmente. O furacão , de espora e penacho, como os Dragões da Independência, durante os primeiros 45, minto, 47 minutos, fustigou a meta do Edson Bastos que, heroicamente, impediu uma nova queda da bastilha. Apesar desse ímpeto todo, a melhor chance foi do Coritiba. Com Michael, aos 18, quando ficou sozinho diante do Gallato, goleiro do Atlético, e em vez de chutar que nem homem ou passar para o Cadu que entrava livre pela direita, se borrou todo, deu um chutinho tão fraco, mas tão fraco, que até a bola ficou em dúvida se ficava parada ou ia um pouquinho mais pra frente. Os jogadores em campo, na verdade, se respeitaram mais que estivadores pelados em sauna úmida. A torcida atleticana vibrava e achincalhava a do coxa que, apesar de estar em menor número, berrava com gargantas de derrubar muralhas de Jericó e devolvia, em alto e bom tom, as gentilezas que recebia. No campo, a luta era da boa mesmo, aquela da lata, cada jogador parecia um dos trezentos de Esparta. Cada centímetro de gramado era vigiado, policiado, como se fosse um valioso latifúndio. A menor falha de qualquer jogador era recebida nas arquibancadas como um insulto e. imediatamente, era criticada com inflamados palavrões inomináveis. Mas voltemos ao início do segundo tempo.


SOBRENATURAL DE ALMEIDA
E DETALHE ENTRAM EM CAMPO.


O Coritiba, aliás, como já é de costume, entrou em campo no segundo tempo com o coração no bico da chuteiras. Babando e soltando fogo pelas ventas, foi para cima do Atlético que nem louco. Uma doideira que deixou em pânico, total e absoluto, a torcida atleticana que em diversas ocasiões chegou a gemer de dor nas mãos de tanto aplaudir as belíssimas defesas do goleiro Gallato, herói do jogo. Não foram raras as vezes que a torcida coxa parecia estar só, no Joaquim Américo. E, convenhamos, torceu como nunca. A primeira e a segunda grandes emoções foram gols anulados, um de Michael e outro de Marcelo Ramos, os dois legitimamente invalidados por impedimento. Mas foi aos 30 minutos que o Além baixou no terreiro da baixada decidido a mudar os acontecimentos. Marlos, que mal acabara de entrar, sai driblando como um Garrincha em dia de Copa do Mundo de 62 e é atropelado, com certa violência, pelo Valencia, que foi justamente expulso pelo Paulo César de Oliveira, árbitro da partida. Silêncio na torcida atleticana, se algum desavisado passasse por ali acharia que estavam todos mortos, pois, além da mudez, a palidez tomou conta das fanáticas feições. Do outro lado, aconteceu exatamente o contrário, a torcida que nunca abandona foi ao delírio, se algum desavisado passasse por ali acharia que estavam todos bêbados. Mas alegria de pobre dura pouco e, 4 minutos depois, uma bela jogada de Nei, que recebe passe de calcanhar, é premiada com a marcação de um pênalti para o Atlético. Maurício é expulso, a alegria muda de lado.. Gol de Alan Bahia, delírio atleticano. Mas alegria de pobre, repito, dura pouco, muito pouco. 5 minutos pra ser exato. Cruzamento, Cadu cabeceia em direção ao gol e Marcos Tamandaré sai de dentro da trave, pelo menos pareceu, e, não se sabe como, pois não tinha ângulo, mete a bola na rede. Festa alviverde. 2.300 torcedores, mais o Maringas, que vale por uns 10, pulando, berrando, no alto da glória, em plena baixada. E 20.000 atleticanos atônitos, se olhando, como se o mundo tivesse acabado de acabar e todos estivessem diante dos 4 cavaleiros do apocalipse. Mas isso não tem importância.

O Paraná perdeu e ganhou. Perdeu para o América em Natal, lanterna do campeonato e ganhou maravilhosamente do Criciúma, no estádio Heriberto Hulse, por 3x0 e com todos os méritos. De quebra ainda saiu da zona de rebaixamento e pulou para a 13ª colocação. Na terça, em rodada completa da série B, pega o bom time do Vila Nova na Vila Capanema. Uma chance de ouro para derrotar o sexto colocado e, dependendo de outros resultados, roubar-lhe a posição.

O Atlético, sábado, tem barra pesada em casa contra o Santos que, apesar de estar na zona de rebaixamento, não é de se matar com a unha. Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. O time atleticano vai ter que jogar tudo que sabe e mais um pouco para vencer. O técnico santista fez pacto de vitória com os jogadores. O Roberto Fernandes que use a cabeça contra o Cuca. No Beira-Rio, domingo, o Coritiba tem outra parada daquelas diante do Internacional. K9, ao que tudo indica, volta, mas não deve estar no melhor de sua forma. Paciência é tudo que o Keirrison precisa agora. Dorival precisa escalar certo e o time começar a jogar desde o primeiro tempo. Se der moleza pro Inter, 45 minutos bastam para ser goleado. Sem Jéci, a nova defesa vai ter que se virar mais que minhoca em asfalto pelando. Mas isso não tem importância.


A MENSAGEM DO ALÉM.


Meus pacientíssimos leitores, eu lhes dizia que, quando soou a última badalada da hora que apavora, abri o envelope e dei de cara com as palavras de Machado de Assis. Uma pérola: "Dalton, tanto no jogo quanto no sexo, ou você tem um bom parceiro ou tem uma boa mão. Lembre-se disso, sempre. Com amor. Ass. Machado de Assis." Dou a mão à palmatória, Machado como sempre está certo, mas a irreverência de sua tirada espirituosa me tira do sério. Pego meu licor de ovos e uma travessa de broinhas de fubá mimoso e vou para a varanda novamente. O céu agora é de um azul escuro enorme, estrelas pipocam aqui e ali, e digo pra mim mesmo: - "Tudo perfeito, tudo divinamente perfeito!" Uma estrela, dessas que parecem ouvir o coração da gente, piscou pra mim, como se dissesse "nem tanto, nem tanto". Atravessado de luz como santo de vitral, sento na minha confortável poltrona para beliscar, beber e ler, completamente encantado, os versos do livro O ENCANTADOR DE SERPENTES, do meu amigo Solivan Brugnara.

Poupem-me de todas as críticas, porque essa noite
vai durar por toda a eternidade.


Dalton Machado Rodrigues

daltonmrodrigues@gmail.com



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