terça-feira, 17 de junho de 2008

CÓPIA DA COLUNA DO DALTON 13.06.08

BOLA PERDIDA DESTA SEXTA FEIRA 13 PUBLICADA NO BLOG DO POLACO:
polacodabarreirinha.blogspot.com
MAIS UM SENSACIONAL "MILAGRE" ESCRITO PELO DALTON, vá
lá e deixe seu comentário, se tiver paciência e sensibilidade como uma delicada flor!
No meu blog: chicocoxabranca.blogspot.com tem meus delírios mentais do nº13
e os palpites da loteca.
orkut: Chico Fantasma
comunidade: Me Chama Que Eu Vou em 2010
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B ola Perdida

“O que nós fazemos nunca é compreendido, apenas louvado ou condenado.”

(Nietszche)


Meus cepticíssimos leitores, muita vez me pego a pensar com meus botões de futebol de mesa. São longas, intrincadas elocubrações e, confesso, adoro dedicar parte do meu tempo a essas meditações que me levam a novas conclusões e mudanças de atitude. Ontem, o ar fresco da noite levou-me à sacada, onde fiquei, creio, durante umas boas duas horas. Eu pensava e no que eu pensava não precisam perguntar , eu digo e repito , em milagres, em milagres. E milagres, vocês sabem, não acontecem todos os dias. Mas há tantos relatos verdadeiros que, maravilhado, sou obrigado a admitir: “Eu acredito em milagres.”

OS FALACIANOS BRINCAM EM SERVIÇO.

- Ah, não! Nem vem com essa, tarado da mão boba! Pensa que eu não te vi na biblioteca pública?! Milagre agora, pra cima de nós?! Essa não vai ter perdão, é tiro na boca. Aahahahahahah... Chilreia o pardalzinho pousado à minha direita, o Geraldo, que por não ter o que fazer, vive fazendo aqui ao meu lado. É um ser difuso, difícil de ser retratado, mas, em rápidas pinceladas, tenho tentado aqui, aos poucos, dar-lhes uma idéia mais clara de sua insignificância. Seu porte físico é disforme, semi-símio, seus braços longos e desajeitados vivem esbarrando em xícaras de café, copos, garrafas. Apesar da banha abundante e conclusiva, é frágil como um passarinho na chuva e tem a estranha mania de ficar vigiando tudo que faço aqui na redação e, o que mais detesto, de plagiar minhas melhores frases. De quando em quando, vem comer alpiste na minha mão piedosa e cheia de dedos, mas na maioria das vezes, toda sua alma pênsil se dedica ao chiste, à bazófia e à pilhéria de mau gosto. Não lhe quero mal e nem bem também. Ele e Ribamar são esse tipo de gente a que o Charles Bukowski se referiu em seu poema O Gênio das Multidões: “o que existe de falsidade, ódio, violência e absurdo na pessoa mediana é suficiente para abastecer qualquer exército em qualquer dia.”

Mas isso não tem importância.

- Como assim? Como assim? Que pobreza de estilo, é sempre a mesma lenga-lenga, mas isso não tem importância, meus idiotíssimos leitores, mas não é isso que eu queria dizer. Porra meu, se flagre! Escreva algo diferente, invente, ô boca de burro. Ahahahahahah... Zurra o quadrúpede, esse mamífero perissodáctilo de tamanho médio com focinho e orelhas compridas e uma espinha enorme ocupando a maior parte do rosto. Ribamar, entrou no Guiness, recentemente, por ser o mais idoso office-boy do mundo. Quando não está me perturbando, é porque está espremendo alguma, que ele cultiva, apara e aduba com as mais inverossímeis técnicas para o desenvolvimento e mudança genética das espinhas. Junto com o Geraldo, eles têm sido meus ratos de laboratório e, confesso, tenho aprendido mais sobre o ser humano nestes últimos dois meses do que em toda minha vida. Mas não era isso o que eu queria lhes dizer.


- Então não diga, cavalo de teta! Ahahahahaha...Em uníssono a dupla despeja em meus ouvidos seus divertimentos e sai, de braços dados, para fumar.

TUDO É MUITO RELATIVO.


Que coisa, né, meus impressionadíssimos leitores? Mas façam como eu, apenas os observem e verão que, apesar de tudo, Geraldo e Ribamar não são tão extravagantes e nem tão diferentes dos muitos seres humanos que alimentam a hipocrisia, a inveja e a maledicência. Mas volto ao que eu queria lhes dizer. Existem apenas dois modos de viver a vida: um é como se nada fosse milagre; o outro é como se tudo fosse um milagre. Eu, como Albert Einstein, acredito que tudo é milagre. Sim, milagre. Nada mais que um deslavado e cínico grande milagre. Dias desses, encontrei uma bela mulher, de origem ucraniana, na fila do ônibus que, segurando meu braço, me dizia, para todos ouvirem: "Um dos maiores milagres de Deus é permitir que pessoas comuns façam coisas incomuns." E, não satisfeita: "Não devemos permitir que o relógio e o calendário nos ceguem para o fato de que cada momento da vida é um milagre e um mistério." Pra ser sincero, nem sei como foi que começou a nossa conversa, mas toda aquela verdade enciclopédica, dita assim em via pública, me humilhou a tal ponto que tomei o ônibus errado e o certo dela, que permaneceu atada a mim por um de seus fortes tentáculos. “O senhor veja bem, se não usarmos o milagre que Deus nos deu hoje, ele se perderá - porque não pode ser guardado ou utilizado amanhã. Estar viva, ser capaz de ver, andar, ter casa, ouvir música, admirar pinturas, tudo é um milagre. Adotei a técnica de viver a vida milagre a milagre." Falou com tão admirável tom que saí correndo do ônibus e quase fui atropelado por uma Kombi carregada de frutas e dirigida por um chinês que me fulminou: “Qué molê?”
- O senhor escapou por milagre! Alguém gritou do outro lado da rua. Mais humilhado ainda, juntei o que sobrou de mim e, com passos galgos, saí dali o mais rápido que pude. Fui a pé, mas, a caminho de casa, não pude deixar de pensar em milagres. Mas isso não tem importância.

SÓ NO NOSSO?

O que eu queria mesmo lhes dizer é que em países riquíssimos como Áustria, Dinamarca, Finlândia, Suíça, Holanda entre outros, vereadores, deputados e senadores ou não recebem nada para exercer o cargo ou recebem apenas uma pequena ajuda econômica para fazer frente às despesas inerentes ao cargo. São políticos que querem o melhor para o seu país e para a sua gente, governam para o bem de todos. “Mas deve haver corrupção também!”, diriam alguns mais apressados. Creio que sim, mas há uma distância enorme do que se faz em nosso país. Vejam vocês, o CSS vem aí para substituir o CPMF. O governo quer arrancar do nosso bolso até o que ele já não tem. E nós, milagrosamente, iremos pagar, é claro. Já são 74 tributos, mas para pagar os salários de nossos políticos e suas verbas de representação, gabinete, assessores e funcionários é preciso muito mais. Muito mais. Maracutaias, desvios, achaques, comissões, já fazem parte do contracheque até do vereador do bairro Puta Que Pariu, em Bela Vista, cidade do interior de Minas Gerais, mas não chega. Vejam vocês a que ponto chegamos, não podemos nem mandar essa canalhada pra PQP, porque vai todo mundo pra Minas. E Minas não há mais, diria Drummond. Mas isso não tem importância. Esses dias, um ex-vereador pedófilo foi preso por cometer vários crimes sexuais contra crianças. O meliante tem 56 anos e é aposentado pela câmara de vereadores de sua cidade com a bagatela de R$ 19.952,73 mensais. Transido de espanto, digo a vocês que os 73 centavos me humilharam mais que os 19.952. Mais, muito mais. Aqueles 73 centavos me jogaram na cara toda a falência do nosso sistema. Todo o dinheiro desviado da saúde, da educação, da infra-estrutura, estavam ali, diante dos meus olhos esbugalhados. Nada mais profano, criminoso, vil que aqueles 73 centavos. Toda a miséria brasileira exposta como uma fratura na imoralidade daqueles 73 centavos. Mas isso não tem importância.

CHOVEI MILAGRES, SENHOR!

O que eu quero mesmo lhes dizer é que o campeonato brasileiro é por pontos corridos e vai que vai. O Atlético salvou a pátria paranaense no domingo passado graças ao Alan Bahia e ao valente Valência. Olhem que 5x0 ficou barato para o Goiás. O técnico Roberto Fernandes conseguiu arrumar taticamente o time e o 4-4-2, pelo menos contra o frágil Goiás, funcionou bem. Mas tem agora duas pedreiras no caminho do rubro-negro: Portuguesa e Grêmio fora de casa e esse esquema tem que ser repensado, talvez povoar o meio do campo e tirar um atacante fosse de bom alvitre. O Coritiba até agora não disse a que veio. Perdeu no Engenhão de 2x1 porque o ataque coxa-branca é de nervos e não de gols. Novamente o time jogou um péssimo primeiro tempo e um bom segundo, quando dominou completamente o jogo. Dessa vez quem deu uma mãozinha para o adversário foi o Maurício. Mas o alviverde tem agora dois jogos em casa para se recuperar: Vitória e Fluminense. Se o Dorival Jr. não inventar moda, o coxa vai a 11 pontos e sua torcida volta a sorrir. O Maringas me mandou um e-mail dizendo: “Agora é a hora, nem antes nem depois. Se o Coritiba pretende alguma coisa neste campeonato tem que vencer e bem os dois próximos jogos. Está na hora da sorte virar para o nosso lado. É só o time jogar com alma, que a torcida faz milagres, Dalton.” Certo. Certíssimo, Maringas. Mas por falar em milagre, o Paraná Clube é o que mais está precisando de um. Independente da fúria de sua torcida, o time precisa de reza braba. A lanterna, para quem não vê luz no fim do túnel, me parece um bom negócio. Enfrentar o Bahia em Salvador não é mole, lá tem o maior número de pais-de-santo por metro quadrado do planeta. O Paraná que se benza. Mas isso não tem importância.

O Torcedor saiu do hospital e fui visitá-lo. Nem bem pus o pé na sala, ele trovejou:


- Perder de 2x0 para a Venezuela, não foi nada, Dalton. Pior foi o futebol que o Brasil apresentou, quase tive uma recaída. O Dunga é uma besta quadrada,
uma besta!



- O senhor está bem, tio? Perguntei-lhe mais expectativo que virgem quando vai levar uma rola na pomba.


- Chama o Scolari. O Felipão nosso de cada dia, esse sim conhece tudo de futebol. Portugal meteu 3x1 na boa seleção da República Tcheca e já está classificado para as quartas da Eurocopa. Dá gosto torcer para um time que tem fome de bola. E ver o Cristiano Ronaldo então, é um raríssimo prazer, o cara faz milagres com uma bola no pé. O Dunga está mais para Dengoso do que Mestre.


- Ahahaha...essa foi boa, Torcedor.


- Ok. Mas me dê licença, Dalton, que agora é hora de tirar uma soneca.


Saí de lá mais tranqüilo que o Dalai Lama em dia de conferência sobre a paz mundial. Me preocupo com o Torcedor e vocês sabem bem por quê, né, meus solidaríssimos leitores? Mas isso não tem importância.

“REAÇA! REAÇA!”

( diminutivo de reacionário, nas décadas de 60 e 70)

Ontem choveu a noite toda e gosto do barulho e do cheiro da chuva. A chuva é mais um desses milagres da vida,e vida, vocês sabem, é essa coisa que acontece enquanto estamos preocupados com o nosso próprio umbigo. Mas não era isso o que eu ia lhes dizer. O Roberto Prado me ligou logo cedinho e foi dizendo: “Dalton, o Chaplin disse certa vez que o bom mesmo é ir à luta com determinação , abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e viver com ousadia, pois o triunfo pertence a quem se atreve. A vida é bela demais para ser insignificante. Isso pra mim, Dalton, diz tudo. É só a gente acreditar que os milagres vão pipocando à nossa frente.” Eu ia comentar mas ele não disse nem tchau e, abrupto, desligou.
Mais uma vez, volto a pensar com os meus botões de futebol de mesa e me vem à lembrança uma noite em São Paulo. Eu tinha ido assistir a um bate-papo com alunos da USP e o Nelson Rodrigues e acabei me perdendo e perdendo a hora. Quando cheguei, ele encerrava sua palestra sob vaias e gritos de “reaça!, reaça!” de muitos presentes e aplausos de poucos. Lembro que me aproximei dele, segurei-o pelo braço e pouco minutos depois estávamos num táxi a caminho do Bar Brahma, que fica ali na esquina da Ipiranga com a avenida São João, desde 1945. Não. Minto. Desde 1948. Nelson estava furibundo e soltava fogo pelas ventas: “São idiotas, idiotas da objetividade e eu sou um ex-covarde, Dalton. Hoje, (era 18 de outubro de 1968, meus informadíssimos leitores) é muito difícil não ser canalha. Por toda parte, só vemos pulhas. E nem se diga que são pobres seres anônimos, obscuros, perdidos na massa. Não, não mesmo. Reitores, professores, sociólogos, intelectuais de todos os tipos, jovens e velhos, mocinhas e senhoras.
E também os jornais e as revistas, o rádio e a TV.
Quase tudo e quase todos exalam abjeção.”


- Somos todos abjetos, Nelson? Me encorajo a perguntar.


- Nem todos , claro. Há sempre uma meia dúzia que se salve e só Deus sabe como. Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo. O que existe por trás de tamanha degradação é o medo. Por medo, os reitores, professores, intelectuais são montados pelos jovens. O medo começa nos lares, e dos lares passa para a igreja, e da igreja para as universidades, e destas paras as redações, e daí para o romance, para o teatro, para o cinema. Sim, os pais têm medo dos filhos; os mestres, dos alunos. E sobre esse medo, Dalton, cai todo o silêncio da nossa pusilaminidade. Repito, sou um ex-covarde. É maravilhoso poder dizer tudo. Para mim, é de um ridículo abjeto ter medo das Esquerdas, ou do Poder Jovem , ou do Poder Velho. Não trapaceio comigo, nem com os outros. Para ter coragem, precisei sofrer muito. Mas a tenho. E se há rapazes que, nas passeatas, carregam cartazes com a palavra “muerte”, já traindo a própria língua; e se outros seguem as instruções de Cuba; e se outros mais querem odiar, matar ou morrer em espanhol – posso chamá-los, sem nenhum medo, de “jovens canalhas.” Foi só então que eu entendi o que deve ter acontecido durante a sua palestra. Depois, Nelson falou pouco, muito pouco. Seus olhos estavam frios e distantes. Mas isso não tem importância.


O ANIVERSÁRIO DO VAMPIRO!


A memória faz milagres às vezes. Por exemplo, acaba de me ocorrer que hoje é aniversário do meu xará Dalton Trevisan, o vampiro de Curitiba, 82 gloriosos anos se não estou equivocado. Estou sim, na verdade, duplamente equivocado, é amanhã dia 14 e são 83 anos, quase lhe tiro um ano de glórias. Mas a festa vai comer solta hoje no bar Ao Distinto Cavalheiro a partir das 19 h. O Trevisan nunca foi e, claro, não irá. Mas, tenho certeza, que por algum milagre que desconheço, estará lá o tempo todo. Mas não era bem isso o que eu queria lhes dizer. A verdade é que mais uma semana se foi, e mais uma sexta-feira estou aqui com vocês, meus queridíssimos leitores, e este é o verdadeiro milagre.

Do resto, poupem-me, pelo amor de Deus!

Dalton Machado Rodrigues

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