sexta-feira, 16 de maio de 2008

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Quinta-feira, Maio 15, 2008



Bola Perdida

“Garrincha, para mim, foi a prova definitiva e final de que Deus
joga certo por pernas tortas.”

Meus estigmadíssimos leitores, ler-me deve ser mesmo uma caixinha de surpresa. Meu amor aos poetas, músicos, pensadores, religiosos, deu a mim e a meus textos uma textura que, quando não compreendida, se assemelha a um amontoado de frases sem nexo. Ou, por comparação, a um time de futebol sem técnica e sem técnico. Mas isso não tem importância.
- Que merda! Vai pregar de novo no deserto, escriba dos infernos. Será que você não se enxerga, Dalton? O povão quer ir direto ao assunto, ninguém está interessado em firulas do perna-de-pau mor de nossas letras... Ah ah ah ah ha!
- Ah ah ah ah! O Dalton é um mamute, com passo de elefantinho. Vai te catar, ô poço de paranóia. Ninguém quer saber de literatices ou de se sentir enxovalhado pela sua pretensa superioridade.
Os dois palhaços, sem circo e sem picadeiro, trabalham comigo aqui na redação e, juro pra vocês, só não matei um rindo ainda porque não pego em caca nem quando estou distraído. É constrangedor ver duas pessoas se apegando ao chiste, à pilheria, à bazófia apenas para importunar e tentar tirar minha concentração na hora em que lhes escrevo, meus fidelíssimos leitores. O ser da esquerda é tão repugnante que aos 21 anos ainda é office-boy da empresa. Ribamar é o único humano que consegue ter uma cara entre as espinhas. Dá nojo, só de ver, além das crateras, jorros e erupções vulcânicas espalhando sebo líquido nas telas dos monitores e nos teclados. Já perdi a conta de quantas vezes fui atingido. Mas isso não tem importância. O que eu na verdade queria lhes dizer é que...eu não tenho bem certeza, acho que foi em 1964... não, não. Me perdoem o apagão momentâneo. Lembro de botas e militares chutando presos, entrando de sola e mandando a democracia pra escanteio, sem dar bola pra ninguém. Isso mesmo: 1965! O que eu ia dizer é que eu e o Nelson Rodrigues nos encontramos naquele ano, à meia-noite, em plena Av.Copacabana. A lua e a maré, cheias, encheram-nos o coração com tanta beleza que, naquela noite, fomos, um para o outro, mais fraternais do que brasileiro no dia em o timão quebrou o jejum de 23 anos sem título. O clima de camaradagem, que cultivamos desde que nos reconhecemos como artistas, a conversa elegante e a alegria incontida pelo encontro inesperado, trouxeram ao nosso passeio a saudade do eternamente genial, do menino, do anjo de pernas tortas, o nosso Garrincha. Eu e o Nelson, alguns anos antes, havíamos presenciado a mais bela partida que o futebol já proporcionou ao mundo: Botafogo 3 x 0 Flamengo.
As manchetes, no dia seguinte, urravam elogios ao herói da partida. Todas, numa devoção quase materna, colocavam Mané ao lado ou acima dos deuses. A Manchete d’O Globo, em letras garrafais, embriagou os olhos espantados do Brasil com esta pérola de manchete: “Garrincha 3, Flamengo 0”. Rimos, choramos de tanto rir, regidos pela doce emoção e magia das imagens imortalizadas em nossas vidas. Quando nos despedimos, um vazio preencheu o brilho dos seus olhos que, tristes, olhavam para os meus. Lembro de ter visto uma lágrima, mínima, esquálida, ínfima, paralisada em Nelson, como se, suspensa e imóvel, pudesse se proteger do meu olhar quase profano. Antes de virar as costas e sair me disse: “Dalton, o homem é senhor do que silencia e escravo do que pronuncia. Mas vou lhe dizer uma verdade que tenho como definitiva, com Garrincha e Pelé em campo, o povo não lotava o estádio para torcer, mas para rezar. Graças a eles saímos do subdesenvolvimento e entramos para o primeiro mundo.” Pouco depois, eu estava só, pisando a areia de Copacabana e ansioso para voltar para Curitiba, mas uma estranha sensação de bem estar me acompanhou durante muito tempo. É como se, pela primeira vez, eu olhasse para mim mesmo e me reconhecesse no palco do mundo, não mais como coadjuvante e, sim,
protagonista da história.
Perdoem-me pela divagação e pecado de me deixar levar pelas lembranças e vaidades que o tempo ainda não soterrou. O que eu quero dizer, meus contemporanísssimos leitores, é que quando o presente embrutece os sentidos,
o passado é tudo que nos resta.
- Mas será possível, Deus do céu!! Que coisa mais chata, um nhém nhém nhém que não pára nunca. Fala do campeonato brasileiro, rato de biblioteca. Guincha o ser úmido, pegajoso e untuoso ao tato, entretido a explodir estupendas espinhas diante do espelho encardido.
- O quê? O cara ainda não entrou no assunto? É uma bosta seca de burro mesmo. Puta que o pariu, que mula! Gralha o ser difuso à minha direita, o Geraldo, o colunista político mais alienado do sul do cu do mundo. Mas isso não tem importância. O fato é que a maledicência e a inveja se encalacraram de tal forma na alma desses dois que fica difícil defini-los sem que minha própria alma se enlameie de indecência. Tudo que posso é, mais ou menos, pincelar suas características mais amenas, não para que vocês, meus sapientíssimos leitores, formem juízo, mas para que o percam. Mas voltando ao que ia lhes dizer, quando fui interrompido pelo Geraldo e Ribamar, o nosso presente é bom. Só não é perfeito porque um dos nossos times perdeu. Mas o Coritiba lavou a nossa alma. Michael e o Carlinhos Paraíba jogaram como Pelé e Garrincha em seus áureos tempos. Os dois fizeram jogadas que até o Luxemburgo teve vontade de aplaudir de pé, mas preferiu se acovardar e bater na fraca arbitragem da partida que, na verdade, só prejudicou mesmo ao Coritiba. Mas isso não tem importância. O que não posso deixar de lhes dizer é que Hugo, Pedro Ken, Alê e Ricardinho acabaram com o jogo. Enquanto Michael e Paraíba voavam em campo e faziam peripécias das mais supimpas, com triangulações, dribles, arrancadas fenomenais, o quarteto fantástico fazia os palmeirenses sentirem meda, temora, pânica, horrora. Faltou muito pouco para perguntarem uns aos outros, aos gritos e faniquitos: “Cadê a bola, cadê?” Para não lhes faltar com a sinceridade total e absoluta, digo mais, o time do Coritiba, foi verdadeiramente um time. Coeso, compacto, raçudo, agressivo na marcação e criativo quando estava com a bola no pé. Os dois gols foram obras-primas. Hugo serviu e marcou, Michael marcou e serviu. Dorival Jr. mereceu nota 9, pois teve inteligência para armar e orientar o time com a lucidez de um Eisten. O Atlético foi a Ipatinga marcou um gol aos 3 minutos e teve um apagão. Não se viu futebol e como não teve futebol, em respeito ao meu tio Torcedor, me nego a comentar. Mas, a bem da verdade, trouxe 3 pontos, jogando na casa do adversário, e esse fato é inegavelmente positivo. Nesta semana, anunciou mais um reforço, um tal de Joãozinho. O Augusto Mafuz, furibundo, trovejou em sua coluna, soltando raios, relâmpagos e trovões pelas ventas. Eu só conheço o Joãozinho das piadas com a Mariazinha ou com a professora.
Mas daí só rindo.
O Paraná jogou futebol para nada. Perdeu do Avaí, com um gol do Sobrenatural de Almeida. O que se viu na Vila Capanema foi um amontoado de jogadores querendo pegar de pau a coitada da bola. Mas não faltou luta ao tricolor, faltou técnica, entrosamento, pontaria, tabelas, triangulações, esses pequenos detalhes que diferenciam um time de futebol de um time de luta greco-romana. Mas tudo isso é passado. Vem aí a segunda rodada, o Coritiba, desfalcado do artilheiro Keirrison , do gigante Jéci, do talentoso Marlos, do impetuoso Rodrigo Mancha e do incrível Paraíba vai a Floripa, terra da belíssima Lagoa da Conceição, enfrentar o melhor ataque e a pior defesa do campeonato. O Figueirense levou 5 da Portuguesa, mas conseguiu empatar depois de estar perdendo por 5x2. E um ponto fora de casa é sempre bom num campeonato de pontos corridos. Mas se o Coxa jogar 70% do que jogou no domingo vai escalpelar em pleno Orlando Scarpelli o alvinegro barriga verde, sem dó nem piedade. O Atlético, no Joaquim Américo, pega o São Paulo que vem de uma derrota para o Grêmio e de uma vitória contra o Fluminense. A torcida pode fazer a diferença, mas se o Atlético não jogar nada como fez em Ipatinga pode levar uma traulitrada inesquecível. O normal é que o Atlético vença, pois o São Paulo poupará vários titulares para o jogo de volta com o Fluminense.
O Paraná vai à Fortaleza jogar com o time homônimo que se acastelará no Castelão e tentará, na pressão, cozinhar o gralha. Não vai ser fácil, o Fortaleza empatou com o Bahia na Fonte Nova e, por muito pouco, não venceu. Mas o Paraná se utiliza muito bem do contra-ataque e, com a volta do Joelson, pode se dar bem. Tomara que sim. Caso contrário, vai ter que segurar a lanterna e tentar achar o caminho de casa. Mas isso não tem importância.

Agora, me dêem uma licencinha que eu vou atender ao telefone:
- Alô, quem fala?
- Teu pai.
- Ô, Trevisan, que que há, cara, perdeu o respeito?
- Não se preocupe, não tenho porco na família.
- Diz, aí. Você tem visto o Torcedor?
- O cara entrou em depressão profunda, Dalton. Já na primeira rodada do Campeonato Brasileiro... POF! O cara caiu duro, seco e arreganhado. Acordou no hospital, babando e delirando, aos gritos, com choros e rangeres de dentes. O doutor disse que o Torcedor, quando chegou, estava começando a comer capim pela raiz.
Mas agora já está bem.
- Trevisan, o cara ama o futebol arte mais do que eu amo meu pai. E o cara nunca teve time, dá pra imaginar o sofrimento do desgracido, que não perde um jogo, vendo Paraná e Avaí, Atlético e Ipatinga, Atletico Mineiro e Fluminense, São Paulo e Grêmio?
- Coitado do velhinho. Mas mudando de assunto, o Machado de Assis deixou sua mensagem mediúnica, direto do além via terreiro do Pai Véio Chico Fantasma. Como o Torcedor está no hospital fui pegar.
Quer que eu leia?
- Não não quero, é você que quer. Manda ver, cara, desembucha.
-
Ouça aí: “Povão só pega um bronze quando lhe cai uma estátua em cima. E só descobre um grande filão, quando, alegrinho, se dirige direto ao guichê, ouve uma tremenda vaia, olha pra trás e vê o sádico guardinha cutucando seu ombro e apontando o tamanho da procissão que chegou antes.
Te cuida, Dalton e cuida do Torcedor!

Ass.: Machado de Assis.”
- ...
Trevisan, diante da minha breve e inconseqüente reticência, desligou e, como sempre, não disse nem tchau. Fiquei a pensar cá com os meus botões de futebol de mesa: é mesmo, né, meus sexta-feiríssimos leitores?, o Machado de Assis, morto, está mais vivo do que antes. Sua mensagem me faz refletir sobre um ensinamento do velho sábio chinês, o honorável Lao Tsé, autor do enunciado da Teoria da Relatividade, em 570 a.C ou, pra ser exato, 2.538 a.E.* : “Aqueles que, na Terra, vivem só na engorda, na virada do cocho vão pro espeto.” Eis uma coisa pra se pensar. Mas isso não tem importância.
Essa semana foi que é um upa. O Maringas ainda está comemorando e mandou fazer uma placa sanduíche, onde na frente se vê o símbolo do coxa com a frase: Estamos comemorando há 12 dias, sem acidentes. E nas costas: Nosso recorde é 28 dias, em 1985. O Roberto Prado foi quem o encontrou e me ligou, mais expectativo que noivo virgem em sua festa de despedida de solteiro. O papo ao telefone foi meio insólito, mas, se não me falha a memória,
foi mais ou menos assim.
- O Maringas está completamente louco, Dalton!
- Por que, Beco?
(Pronuncia-se Béco).
- O cara não pára de festejar.
- E daí?
- O cara parece o meu filho Gregório.
- Então ele é genial.
- Ah, você me entendeu...não tergiverse.
- ?!
Desligou e a la Dalton e não disse nem tchau.
Uma das razões por que gosto do Beco é essa ausência de formalidades. Sua sinceridade sempre acaba me tocando e elevando meu espírito. A noite agora é um fato e o céu com ataque de estrelismo pipoca aqui, ali e acolá. Enquanto eu, palmilhando estrelas, digo pra mim mesmo:
- Poupem-me, pois de mim ou do eu ainda há de vir o dia em que todos serão meus filhos. E, a continuar assim, eu paro por aqui.


Dalton Machado Rodrigues

* Antes de Einstein
postado por polacodabarreirinha @ 2:40 PM
Francisco Wojciechowski RG 2067524-l Pr
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fone(041) 917679.07
Em breve meu livro: BIG BROTHER DO CIGARRO DA BEBIDA E DOS JOGOS
"Um livro feito por vozes de outro mundo?

TODA SEXTA TEM COLUNA NOVA DO DALTON NO BLOG:
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Um comentário:

Anônimo disse...

Por que nao:)